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Novos falsos gêneros jornalísticos
Novos falsos gêneros jornalísticos

 

Há quatro gêneros conhecidos no jornalismo: informativo, opinativo, interpretativo e investigativo. Alguns autores criam, por sua conta e risco, outros gêneros que representam a forma como a imprensa coordena seu trabalho. É o que farei hoje. Observando recentes publicações da mídia, resolvi arriscar na concepção de novas modalidades que justifiquem esta profissão que escolhi para a minha vida.

Entretanto, minha construção não será positiva. O argumento dela está na fragilização do jornalismo enquanto canal do interesse público, isto é, um meio de levar às pessoas a informação correta e precisa, buscando isenção e fidedignidade. Venho sugerir três novos gêneros: o jornalismo burocrático, o jornalismo sem valor-notícia e o jornalismo de Google.

Conheça as particularidades de cada um:

1) Jornalismo burocrático: lamentavelmente, os grandes veículos de comunicação pegaram essa virose. A redução de pessoas e o sucateamento das condições de trabalho acabaram por enfraquecer a atuação do jornalista, obrigando-o a buscar a rapidez – não a qualidade. Como resultado, matérias “sem sal”, provenientes quase que integralmente de releases enviados pelas assessorias de imprensa. Esse gênero checa pouco e confia demais nas informações que recebe espontaneamente. Não faz as perguntas que devem ser feitas. Inocentemente, se satisfaz com depoimentos vazios (como é o falatório de autoridades públicas).

2) Jornalismo sem valor-notícia: o portal Yahoo, a exemplo do que sempre faz, publicou manchete bombástica na semana passada: “Fantasma de viúva mata dez homens após sexo grupal e apavora cidade”. Quem estuda jornalismo online sabe que o título reflete um caso clássico de link bait, ou seja, um conteúdo na web que, por sua informação inusitada, constitui uma verdadeira isca a fim de atrair curiosos. Valor-notícia na matéria? Nenhum. Apenas algumas bobagens copiadas de algum site sensacionalista do exterior. Esse gênero odioso cresce cada vez mais, especialmente na internet. Nada oferece ao leitor, exceto, talvez, algumas risadas e compartilhamentos. O problema é que as pessoas discutem inutilidades como essa, em vez de debater a crise internacional na Grécia, por exemplo.

3) Jornalismo de Google: informação rápida como nunca se viu no impresso, rádio ou TV. O Google é uma excelente ferramenta. Para quem sabe usá-lo. Ajudou o jornalismo? Sim. Para jornalistas que sabem usá-lo. Não há repórter que resista em uma redação quando sua principal fonte é o site de buscas, entretanto. O insumo de uma matéria está na palavra da fonte, na qualidade de um diálogo, no olho no olho. Nos últimos tempos, surgiu uma série de plataformas online para competir com o Jornalismo. Blogs, redes sociais, páginas colaborativas. A credibilidade destas? Depende do risco que o interlocutor queira correr. Muitos “jornalistas” destes “veículos” produzem suas pautas inspirados em textos que encontram na internet. Não há checagem. Não há apuração. Mas há audiência.

Muito cuidado com os novos gêneros. Eles apresentam-se prejudiciais à comunicação, mas devem ser ponderados, como forma de reflexão e crítica. O bom jornalismo certifica, separa fatos de boatos. O bom jornalismo não se faz sentado na redação, muito pelo contrário, é na rua onde o mundo está acontecendo. O bom jornalismo é feito por jornalistas! Assim sendo, que a profissão revise seus erros e garanta, como sempre fez, a credibilidade da informação propagada. O público precisa disso.

Por Gabriel Bocorny Guidotti

 

 

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